O Crack me tornou morador de rua por 9 anos
Venho de uma família humilde. Éramos em 4 irmãos, enquanto meu pai trabalhava para prover o sustento de todos, minha mãe, sempre muito amorosa, cuidava da casa e de todos nós. No período da minha infância, não fazia coisas erradas, era um garoto arteiro que gostava de estudar.
Durante a adolescência, cursando a 5ª série, sofri um acidente e fraturei a clavícula e nunca mais voltei à escola. Meu pai era pedreiro e aos 15 anos comecei a trabalhar com ele como ajudante.
Anos mais tarde, tudo parecia ir muito bem. Eu trabalhava, era casado, até que por curiosidade, por meio de más companhias, experimentei pela primeira vez a maconha e também passei a consumir bebidas alcoólicas.
Minha esposa era ótima para mim e eu era feliz, porém, mesmo fazendo uso da maconha só de vez em quando, nossa relação passou a se deteriorar.
Nessa época, meu irmão José Adão, decidiu ingressar no mundo do crime e aos 22 anos de idade foi morto em um confronto com a polícia. Foi muito triste, difícil de entender pois eu era o irmão mais velho e ele só tinha 22 anos. Passei também a me culpar por isso. Sua morte abalou toda a família e as coisas daí para frente iriam piorar muito.
Ao invés de abandonar as más companhias e o vício da maconha, reconstruir meu casamento e ser um braço forte para que eu e minha família pudéssemos superar a perda do meu irmão, sucumbi e, passei a consumir também a cocaína.
Minha mãe que já vinha adoentada, com a morte do meu irmão, entrou em uma depressão profunda e veio a falecer 6 meses depois da morte de meu irmão.
Lembro que uma semana antes de minha mãe morrer, eu havia decidido a mudar de vida, queria fazer tudo diferente, queria lutar para tentar salvar também o meu casamento que já estava por um fio. Mas não deu... Infelizmente, minha mãe morreu!
Eu tinha 26 anos nessa época, um lar, uma esposa e um filho bebê, o Gabriel Fernando. Um dia após enterrar minha mãe, sem ter como reagir ou tempo para pensar, minha esposa terminou comigo e mandou eu sair de casa. Realmente ela tinha razão, eu só dava mancada. Mas, não esperava por essa decisão dela naquele momento.
Voltei então, a morar na casa de meu pai. Porém, meu pai não era mais o mesmo após a morte da minha mãe, muito menos eu e ocorriam muitas brigas. Meu pai mudou, eu mudei, tudo havia mudado. Talvez se minha mãe ainda fosse viva, tudo poderia ser diferente, mas, não foi.
Eu era arrogante demais e logo tive que sair da casa do meu pai e fui morar com meu tio.
Nessa época eu trabalhava como ajudante de pedreiro em construção civil um “amigo” (entre aspas), me ofereceu aquilo que iria acabar de destruir a minha vida:
O Crack.
Tentava parar, tentava mudar, mas, sentia muita dor muita raiva e só me afundava mais no vício. Não conseguia mais trabalhar, só fumava.
Para sustentar meu vício no crack, passei a roubar coisas da casa do meu tio, eram roupas, tênis, relógio e até mesmo alimentos que meu tio comprava para nos alimentar, tudo se transformava em pedras de crack.
O crack é uma droga que tira a pessoa completamente da razão a ponto de pensar que eu estava certo e todas as pessoas que eu amava estavam erradas. Ao passo que as pessoas da rua que usavam a droga junto comigo, elogiavam as minhas atitudes rebeldes e arrogantes e, eu achava tudo isso o máximo, já as pessoas que realmente se importavam comigo e vinham me dar conselhos, eu simplesmente as ignorava.
Meu tio sempre tentava me ajudar, tentava conversar comigo, mas, eu não aceitava, não achava que precisava de ajuda. As coisas continuavam sumindo de casa e as brigas iam aumentando até que não suportando mais, mandou que eu fosse embora de sua casa. A essa altura só me restava uma alternativa: a rua.
Foi horrível e doloroso. Tudo que eu fazia de errado quando morava com a família, passei a ter atitudes muito piores. Eu roubava mais, fazia pessoas que eu nem conhecia sofrerem, eu tomava coisas, invadia residências, eu bebia e fumava cada vez mais. Passei fome, frio, bati e também apanhei. Fui caçado como um animal.
Foi assim durante 9 longos anos da minha vida, morando em um buraco num terreno baldio em um lugar chamado Itapicurú na Freguesia do Ó, dividindo o espaço com inúmeros outros usuários de crack. Revirava o lixo para poder me alimentar.
Muitas vezes, à noite, no frio, com fome, eu pensava: “- O quê eu faço meu Deus? - Não tem mais jeito pra minha vida!” Sentia muita falta do meu filho.
Uma única vez, durante estes 9 anos, eu tentei ver meu filho. Aproximei-me do lugar onde ele morava e fiquei observando ele de longe, brincando com seus amiguinhos. Eu estava muito sujo e não queria que ele me visse naquelas condições. Sentia muita vergonha e não queria envergonhá-lo também.
A essa altura, já havia sido preso em razão de um furto, porém fiquei menos de um dia detido. Quando saí, tinha que voltar para o mesmo buraco, mas, as pessoas que eu havia lesado queriam tirar a minha vida. Cada vez mais eu era caçado e tinha que fugir e me esconder.
Já haviam se passado muito tempo e eu, já era tido como morto pela minha família até que um dia, um grupo de jovens do evangelismo da Desafio em Cristo liderados pelo meu irmão Fernado, estavam a procura de um rapaz chamado André “o Lasanha,” que também morava naquele lugar. Porém naquele dia, o Lasanha não estava lá, quem estava lá era eu. Foi quando perguntei para aqueles jovens: “...- E esta ajuda, tem para mim também?” E ele respondeu: “- Eu não posso te ajudar, mas Jesus pode!”
Autorizados pela pastora Vânia da Desafio, mesmo imundo e cheirando muito mal, colocaram-me dentro do carro do meu irmão Fernando e saímos rumo à uma clínica de recuperação.
No caminho, fizeram uma parada pois a própria pastora Vânia queria falar comigo. Me fez algumas perguntas: “-Você bebeu água hoje?” Eu respondi: “- Não.” – Quando foi a última vez que você se alimentou?” Respondi: “- Não sei.” Porém, me lembro de uma frase que ela disse antes de seguirmos a viagem:
“-Quero que você fique em pé para criar o seu filho,
antes que o mundo o adote!”
E seguimos para uma clínica de recuperação situada na cidade de Arujá em São Paulo, onde permaneceria lá pelos próximos 8 meses.
Lá era tudo diferente, eu tinha um teto, alimentação, ficava como uma criança embaixo do chuveiro, já não me lembrava mais de como era tomar um banho e dormir de roupas limpas. Lá pude meditar na Palavra de Deus e aprender a perdoar e se arrepender.
Com 2 meses de internação, recebi uma visita dos irmãos da desafio. Foi uma alegria muito grande que me levou as lágrimas de tanta emoção. Eles haviam localizado minha irmã caçula e a levaram até a clínica para se reencontrar comigo. Quando havia saído de casa, ela era apenas uma criança e naquela dia ela já era uma mulher.
Em uma outra oportunidade enquanto estava internado, recebi uma ligação, achei estranho pois eu nunca recebia ligações. Era o meu irmão Fernando na linha, quando atendi disse que uma pessoa queria falar comigo: Era o meu filho Gabriel. Eu só conseguia chorar e soluçar e perguntar se ele estava bem, não conseguia dizer mais nada.
Conforme o tempo ia passando e ia se aproximando o final do meu tempo de internação, eu ia ficando apreensivo pois não sabia ainda para onde iria depois que saísse da clínica. Será que a minha família me aceitaria de volta? Como seria a minha vida lá fora?
A fase de tratamento acabou, era hora de partir. Um grupo de irmãos da Desafio em Cristo vieram me buscar da clínica. Fui recebido com muito amor pelos irmãos na igreja e cheguei a morar por um pequeno tempo na casa de minha irmã.
Logo meu irmão Fernando conseguiu um emprego para mim. Comecei a trabalhar e hoje moro em uma pensão pertinho da igreja Desafio em Cristo.
Se não fosse pela pastora Vânia, eu não estaria aqui hoje, porque se não fosse por ela não existiria a Comunidade Evangélica Desafio em Cristo, assim como não existiriam suas ovelhinhas que com ela aprenderam a amar, pois só o amor pode mudar uma vida perdida, só com amor é possível demonstrar que o nosso Deus vive!
Hoje vivo sob um teto pago com o suor do meu trabalho, ajudo minha família e meu filho financeiramente. Tenho conta no banco, cartão de crédito (opa! Um ex-morador de rua?), telefone celular e já levei o meu filho no MacDonalds.
Na Desafio em Cristo, conheci Jesus, aprendi a valorizar a vida, não propriamente a minha, mas a vida de tantos outros que ainda não conhecem a Cristo e estão precisando de uma mão que os puxe para fora do buraco. Esse é o verdadeiro Evangelho que eu aprendi aqui, neste lugar abençoado por Deus.
“Fui buscado pelos que não perguntavam por mim; fui achado por aqueles que não me buscavam; a um povo que não se chamava do meu nome, respondi: Eis-me aqui, eis-me aqui.”
Isaías 65:1
A Deus toda a honra e glórias!
Frase escrita por José
José Evangelizando
José no dia da internação
antes que o mundo o adote!”
Isaías 65:1
Amado José, talvez eu nunca tenha demonstrado ou falado importância que tem em minha vida, lembro quando tive a felicidade de lhe encontrar e leva-lo para conversa com a Pastora Vânia Menon, ali o seu coração seria entregue a DEUS para sempre! Pegue firme amado, cada dia com se fosse o ultimo, esteja preparado! Te amo irmão
ResponderExcluirMancha